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sábado, 24 de abril de 2021

"HÁ CONDIÇÕES PARA DIMINUIR DIFERENÇA NA PRÁTICA DESPORTIVA ENTRE HOMEM E MULHER, MAS AINDA NÃO EXISTE IGUALDADE"

As oradoras Luísa Salgueiro, Aurora Cunha, Sílvia Pereira e Carolina Aroso, descreveram que  "há condições para diminuir a diferença na prática desportiva entre homem e mulher, mas ainda não existe igualdade", nas conversas ao entardecer do Padroense. 

"Está a ser construído um caminho no sentido de haver condições de igualdade. Há condições para diminuir a diferença na prática desportiva entre o homem e a mulher, mas ainda não existe igualdade, estamos muito longe de o atingir", salienta a presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro. 

"Nós temos uma diferença significativa e temos a consciência de que é preciso estimular mais as associações, as atletas. O gap tem vindo a diminuir mas ainda é muito significativo e um dos grandes desafios da política desportiva é essa", enfatiza.

A ex-árbitra Sílvia Pereira da comissão técnica da arbitragem feminina na AF Porto revela que está no cargo "como forma de incentivar as jovens a continuarem os seus caminhos", mas salienta que o futebol feminino nunca vai ser comparado com o futebol masculino.

"Senti de tudo quando estive na arbitragem. Tive familiares que me apoiaram, que não me apoiaram. Tive familiares a ver os meus jogos e a me insultar dentro de campo. O caminho é muito maior desde que comecei. Nunca vamos ser comparadas com o futebol masculino, nunca vamos chegar a esse patamar", descreveu. 

Carolina Aroso que esteve no Padroense durante três temporadas, sendo a única rapariga que jogava nos escalões de formação masculinos, atualmente no Varzim, explica que a família "incentivava para jogar futebol", mas revela que recebeu comentários machistas.

"Nunca tive problemas no Padroense em estar no meio dos rapazes, mesmo que eles não me aceitassem. Nas equipas do Padroense nunca senti comentários negativos, mas quando jogava contra outras equipas, ouvia comentários machistas", disse.

Segundo Aurora Cunha, campeã mundial de estrada em três anos consecutivos — 1984, 1985 e 1986 — e que venceu as maratonas de Paris (1988), Tóquio (1988), Chicago (1990) e Roterdão (1992), assim como a São Silvestre de São Paulo em 1988, considera que "hoje o desporto no feminino está muito melhor, mesmo nas aldeias". 

Na sua opinião o 25 de abril foi uma abertura para o desporto no feminino, sendo que na sua época, "havia muita dificuldade em mudar de mentalidades, porque as pessoas não aceitavam ver uma jovem a correr com as pernas à mostra à volta de igreja e também não haviam condições de treino".

"Sinto-me muito orgulhosa por revolucionar o desporto em Portugal, nós lutamos contra tudo e contra todos, no que respeita à igualdade de prémios, pois na altura os homens ganhavam 1000 contos por prova (4988 euros) e as mulheres ganhavam 500 contos (2494 euros). A pista era a mesma, os metros percorridos eram os mesmos e não percebia essa diferença. Ainda hoje continua a existir essa diferença", explicou.

Todas as oradoras concordaram que a autoestima que as mulheres tem "permitem que se esbatem as diferenças entre homens e mulheres na prática desportiva".

"Cheguei onde cheguei ao lutar contra os machismos, e ser superior aos homens para chegar lá. A partir do momento em que entrei em campo era mesmo aquilo que queria fazer", expressou Sílvia Pereira. 

Esta considerou que a pandemia fosse mudar a sociedade nesse sentido, algo que não aconteceu.

"A pandemia deu para refletir muito do nosso passado e se calhar muitas pessoas não vão tomar isso em consideração, vão ter os mesmos comportamentos", assumiu.

Em Matosinhos das 108 instituições, 60 tem atletas femininas, com 1908 mulheres em 32 modalidades, com Luísa Salgueiro a considerar no futuro "aumentar a majoração no feminino", atualmente em 10%, mas assume que essa não é a sua preocupação a curto prazo.

"Neste momento não me preocupa tanto o apoio no desporto feminino em si mas o que me preocupa é que as instituições sobrevivam e se mantém fortes depois da pandemia", afirmou.

No âmbito das comemorações do Centenário do Padroense, o clube iniciou um Ciclo de "Conversas ao Entardecer" que teve como tema "Desporto no Feminino" e que vai continuar durante este ano.


Fonte das Fotos: DR


Diogo Bernardino 

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