O capitão do Leça Paulo Lopes e outros do Campeonato de Portugal pedem uma tomada de posição acerca dos rendimentos e da linha de créditos para ajudar os clubes, em comunicado.
"Caro Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, no mundo, e no nosso país, vivemos uma batalha inesperada e difícil. Esta pandemia, como já foi referido por muitos dirigentes e órgãos máximos de instituições, vai-se refletir num grande impacto a todos os níveis, incluindo desportivo e económico. Este impacto económico é talvez o que mais nos preocupa no momento atual, sendo nós o Campeonato de Portugal, prova gerida pela FPF e que alberga mais jogadores no nosso país.
Este Campeonato de Portugal, como o próprio nome indica, é jogado por todo o país, sendo o mais representativo de todos: Trás-os-Monte, região Douro, Beira Alta, Beira Baixa, toda a costa litoral, Alentejo, Algarve e as nossas incríveis ilhas.
Alguns dos jogadores estão dispostos a acordar às 7h, trabalhar em fábricas das 8h às 17h, treinar às 18h, quando não é mais tarde, e chegar a casa quando toda a família já jantou. Com sorte, ainda conseguimos dar um beijo aos nossos filhos, mas não dá para muito mais.
Outros, e aqui assumimos mea culpa, vivem num falso profissionalismo. Aceitamos treinar durante o dia em troca de poucas centenas de euros que muitas vezes não chegam para colocar pão na mesa. Pelo meio ainda deixam de nos pagar e quando vamos a ver foram os mesmo dirigentes de sempre, que exploram a nossa classe sem nunca terem sido punidos.
Posto isto, e voltando ao parágrafo inicial, este impacto económico que falamos, tem uma dimensão dramática no Campeonato de Portugal, campeonato esse onde os clubes lutam para sobreviver com poucas ou nenhumas receitas e os jogadores amadores estão desprotegidos.
Estamos preocupados. O campeonato terminou, os clubes pararam e ficaram a faltar dois subsídios aos jogadores. Fica ainda por ter resposta a pergunta de quando iremos voltar a competir. São muitos meses sem nenhuma fonte de rendimento para a maioria, daí que entendemos que a ajhuda nesta situação deveria ser diferente e deveria ser clara e efetiva.
Sendo assim, deixamos algumas questões às quais agradecíamos uma resposta:
1. Foi lançada uma linha de crédito para ajudar os clubes, com uma série de requisitos a cumprir para que, ao fim de quatro anos, possa ter acesso a algum fundo perdido. Situação não muito do agrado de quem sobrevive neste Campeonato cumprindo as suas obrigações com maior ou menor dificuldade. No entanto, esta solução, que carece de muitas falhas, iria ser discutida pela FPF em reunião com os 72 clubes. Porque razão, até ao dia de hoje, não foi realizada uma reunião no sentido de encontrar uma solução?
2. Os jogadores da nossa Seleção Nacional, que tão bem nos têm representado a todos os portugueses, em mais uma grande jogada, preocupados com os atletas amadores, decidiram abdicar de uma parte do seu prémio monetário relativo à qualificação para o Europeu e assim ajudar estes mesmos atletas.
Porque é que essa ajuda foi colocada na linha de crédito e não doada aos atletas amadores para que efetivamente os ajudassem a receber os seus subsídios que tanto lhe fazem falta nesta situação? Será que a nossa Seleção Nacional não queria ajudar os atletas e não apenas quem aderisse a um crédito?
3. Nos últimos dias deparámo-nos com a notícia, enunciada por muitos órgãos de comunicação social, que dizia que o valor que cada clube da II Liga tem direito para melhorar infra-estruturas respeitante à próxima época desportiva iria ser adiantado pela FPF e como esta situação é excepcional podia ser usado para pagar salários. E nós, Campeonato de Portugal? Campeonato gerido pela FPF, não estamos a viver uma situação excepcional que mereça uma ajuda deste tipo? Não estamos a ver famílias em situações dramáticas, de grande dificuldade, que para além destes meses que o campeonato terminou, não sabem quando voltam a receber algum dinheiro?
Não queremos deixar passar que estamos de acordo com as medidas explicadas na Comunicação Social pelo Sr. Presidente da FPF, para este campeonato. Que existam regras e que seja para os clubes as cumprirem, que não sejam permitidos projetos poucos responsáveis, que não seja permitido profissionalismo encapotado, que haja uma proteção nos contratos amadores para não desproteger estes atletas.
Elaboramos, assim, mais alguns pontos e sugestões para estabelecer o diálogo e proteger os atletas do Campeonato de Portugal:
Definir uma categoria para o jogador do Campeonato de Portugal, em que o vínculo atleta-clube seja reconhecido;
Exigir, mediante o orçamento, garantias reais dos investidores que entram nos clubes, para que o atleta não seja ludibriado e enganado;
Aplicar um limite de inscrições por equipa;
Aplicar punições a quem não cumpre com os subsídios aos seus atletas (perda de pontos, proibição de inscrições…);
Permitir que um atleta amador que tenha subsídios em atraso possa desvincular-se do clube sem ter que esse mesmo clube passar uma carta.
Queremos também com isto abrir uma janela de diálogo para que, de uma vez por todas, os moldes deste Campeonato sejam revistos, pois já todos sabemos que não são benéficos para ninguém e não privilegiam a regularidade das equipas. Achamos que deve ser debatido e alterado o mais rápido possível e que, para isso, se junte a opinião dos jogadores nas reuniões com a FPF, os clubes, e as Associações.
Queremos todos melhorar e este é um passo justo para que o futebol e o Campeonato de Portugal melhorem. Que se faça justiça a dirigentes e clubes incumpridores, pois os jogadores são seres humanos.
Caro Senhor Presidente da FPF, terminamos a dizer que estamos realmente preocupados, com o presente e o futuro, e não queremos ser colocados num canto, queremos ser tratados por igual como todos os outros. Esta carta é uma preocupação geral, de todo o campeonato de Portugal, e que faz um apelo para que se possa minimizar a situação dramática que muitos atletas vivem, não com empréstimos, mas com ajudas.
Aguardamos uma resposta e possível esclarecimento por parte da FPF nos próximos dias. Caso tal não aconteça vemos-nos obrigados a avançar para outros meios, a fim de ver a nossa situação esclarecida"
Fonte da Foto: DR
Diogo Bernardino